Em 2016, descobri que tinha um câncer no pulmão, agressivo e incurável.
Cheguei a cogitar em não fazer qualquer tratamento. A oncologista, sabiamente, me disse o seguinte: “Se você se recusar, não espere que vá morrer placidamente como uma bela adormecida. Haverá um longo processo de dor e sofrimento”. Ela também me advertiu que, se eu optasse pelo tratamento, seria imperioso abandonar o álcool. Dura batalha a enfrentar. Iniciei então a quimioterapia, que durou um ano e sete meses.
Durante essa fase do tratamento, minha vida mudou para melhor. A começar por uma alimentação mais saudável, maior ingestão de água e pela prática da musculação e retomada da natação. Exercícios físicos contribuem para renovação das células, melhoram a imunidade e a qualidade vida. Adquiri disposição e entusiasmo por estar me cuidando aos 74 anos de idade. Note-se que muitas vezes, logo depois da químio, eu ia para a academia.
Ao ter um grande desafio pela frente, passei a encarar o câncer como uma oportunidade de reformular vários aspectos de minha vida. Assim, tornei-me mais condescendente para com as pessoas e seus problemas. Comecei a praticar firmemente o que se chama compaixão (colocar-se no lugar do outro). Passei a ter mais humor, o que ajuda demais em momentos difíceis.
Tenho a convicção de que os desafios fortalecem o ser humano; a superação de limites proporciona maior sentido à vida. As conquistas pessoais são como medalhas de uma Olimpíada. Adquiri uma espécie de enriquecimento interior, uma nova chama.
Ao cessar o tratamento quimioterápico, o tamanho do meu tumor obteve uma redução surpreendente. Foi uma vitória e tanto, surpreendendo os médicos.
Passei então para a radioterapia. Trinta sessões, dirigindo meu carro diariamente e com imensa satisfação em dirigir o carro até Sorocaba e voltando para Itu, onde resido.
A doença está estável. Mas é necessário extremo controle. Ainda há um longo caminho pela frente, eu suponho. Mas não importa.
Admito que as transformações positivas que já aconteceram comigo, minha reforma íntima e a capacidade de resiliência já são suficientes para que eu possa afirmar, sem sombra de dúvidas, que o câncer me salvou.
Rosa Maria Artusi, 74 anos, jornalista.
Agradeço sinceramente à equipe da Onco Itu por sua competência e carinho. Agradeço a todos os outros profissionais que me acompanham nesta jornada. Agradeço a todas as pessoas que colaboraram e continuam colaborando para que eu me mantenha viva e vibrante.