QUANDO A VIDA NOS DESPERTA

No fundo de um buraco ou de um poço, acontece descobrir-se as estrelas. – Aristóteles

E cá estamos nós atravessando mares agitados, tentando entender o que está acontecendo, buscando equilíbrio emocional para lidarmos com uma situação nova, com o imprevisível… Acreditamos estar diante de um inimigo mundial chamado covid-19.

Com o passar dos dias, desde a descoberta da pandemia, buscamos tantas informações sobre sua origem, seus sintomas, cuidados, riscos, que a maioria de nós já está esgotado e não suporta mais repetir histericamente o mantra diário da mídia, seguindo instruções sistemáticas de acesso a todas as fontes de opiniões sobre o assunto. Agora, passou a ser nossa nova rotina.    

A situação é consideravelmente séria e a tal quarentena como estratégia, passa a ser nosso novo inimigo. E assim por diante, os inimigos vão se somando e tudo aquilo que nos é proposto nos incomoda absurdamente.

O fato é que fomos tirados da nossa rotina carregada de exigências, carências e fugas da realidade, com prioridades e percepções que foram distorcidas por episódios de dor, perdas, traumas e muitas outras experiências mal elaboradas por nós. Tudo o que era postado em redes sociais como forma de viver e fonte de bençãos e de alegria, parece não nos ajudar muito nesse momento. A angústia, a ansiedade e o medo começam a nos apavorar…

Como lidar com tudo isso? Para viver e para morrer “melhor”, precisamos ter recursos internos verdadeiros como resiliência, empatia, bons relacionamentos, boa autoestima, fé, generosidade consigo mesmo e com os demais, habilidades para perdoar, aprender, mudar, adaptar-se. Precisamos saber transformar a solidão em solitude que é o lugar da criação e das oportunidades, onde muitos gênios em seu silêncio escreveram e pintaram nossa história.

Acredite, ter uma boa história de vida para contar vai funcionar e ajudar muito na hora de enfrentar qualquer surpresa pelo caminho.   

Seja qual for o cenário em que nós formos colocados, por mais trágico ou caótico que nos pareça, ele jamais será nosso real inimigo. “a realidade apenas é em si mesma daquele jeito” e quem vai dizer se aquilo é bom ou ruim somos nós. A forma como interpretamos os nossos momentos os tornam leves ou pesados, pode agregar conhecimento ou mágoas, pode gerar aflição ou esperança.

Ainda não sabemos o resultado de todo esse movimento no mundo, mas podemos decidir como fazer desse caminho o melhor de todos, para ao menos vivermos intensamente todos os detalhes da simplicidade que a vida proporciona. Hoje, nossas diferenças não estão mais na cor da pele ou no status, e sim na nossa vulnerabilidade, e a solução está no cuidado coletivo e não mais no individualismo.

É assim quando a vida nos desperta, aceitamos a realidade e mudamos quem realmente precisa mudar: nós mesmos! 

KÁTIA CRISTINA EMMANOEL

Psicóloga
CRP/SP 06/57.685